Como não ver o MASP

Por:  José Guillermo Valverde

O MASP, em 2017, completou 70 anos e como bom millennial fui numa terça feira, por ser de graça, e visitei o museu. Ao chegar notei um público maior do que costumo ver, formado em grande parte por jovens hipsters de todos os tipos e ramificações, o que me pareceu como algo bom inicialmente, a final de contas, é de se orgulhar de uma geração que transforma algo tão bom quanto arte em uma “trend”, certo ? Não exatamente. Difícil não notar e questionar a forma como as obras eram observadas pelas pessoas, começando pelo ritmo de observação ali imposto pelo próprio público, que era acelerado ao ponto de me fazer sentir em uma linha de montagem, ou fazendo um pedido no subway.

 

As pessoas paravam em frente às obras e fotografias por dificilmente mais que dois minutos, antes de já seguir para obra ao lado de forma sistemática, mas sem esquecer de uma selfie ou outra para acompanhar o imediato check in do Facebook. Não me leve a mal, não estou dizendo que essas pessoas não conseguiram apreciar, de forma alguma, aquilo que estavam vendo, contudo, não acho que essa seja uma boa forma de absorver aquilo que estava sendo mostrado, naquele lugar, fica faltando algo que seria a experiência da arte, aquilo que seria um profundo engajamento e envolvimento do espectador com as obras e, neste caso ao mesmo tempo, com o espaço a sua volta.

 

Pareceu-me difícil refletir e me conectar com os momentos históricos ali passados e retratados, olhando através de uma tela touch, e em menos de dois minutos. O evento de estar em um museu vendo arte requer primeira e principalmente que você esteja ali pronto para observar, sendo a arte um exercício contemplativo. Exercício que mesmo parecendo simples, não é exatamente fácil, requer um momento de atenção, de rápido isolamento sensorial, de nós. Arte é algo que requer seu próprio tempo, e hoje, parece estar fora de compasso com com o tempo acelerado da internet e da pós modernidade, parece que não podemos fazer, com ela, a mesma coisa que já fizemos com nossa comida, moda e informações, e torná-la “fast”.

   

Fica a se questionar se São Paulo ainda consegue ver sua “cara”, ou se cada indivíduo agora se ocupa mais olhando a própria cara, atrás de likes, share’s, match’s e afins. Cabe a nós saber reduzir a velocidade de nossas vidas, mesmo que só por um momento, e só estarmos ali, e não na rede também.

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